3DModelling Studio vence concurso SmartCatalonia Challenge
A startup portuguesa 3DModelling Studio, uma Spin-Off tecnológica da Faculdade de Arquitetura, foi vencedora do concurso SmartCatalonia Challenge 2019 com a sua solução para o cálculo automático de peso e volume dos resíduos do porto de Barcelona.
Por Cíntia Costa e Pedro Rebordão
O LISPOLIS falou com Jorge Garcia-Fernandez, CEO da 3DModelling Studio, sobre o concurso, o prémio ganho e a sua futura implementação.
Como é que conheceram o concurso e o que vos levou a participar?
Este é um concurso promovido pela Generalitát de Cataluña e o porto de Barcelona. Os 6 desafios aos quais as empresas concorreram resultam de um processo de simplificação das 100 necessidades inicialmente identificadas, pelas duas entidades, para o porto de Barcelona. De salientar que o porto de Barcelona é o mais importante de Espanha, talvez o mais importante da Europa, motivo pelo qual acredito que tenha sido feita uma tão grande divulgação do concurso a que nós, com sucesso, respondemos. Dos 6 desafios, a 3DModelling Studio respondeu a 2:
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- Cálculo ininterrupto e automático de volumes dos resíduos que saem dos barcos, que podem atingir num ano um volume de 100.000 metros cúbicos e representam um custo enorme na operação e que necessita de ser devidamente imputado – e a empresa 3DModelling ganhou o prémio para este desafio
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- Reutilização e tratamento de dados geométricos e dados espaciais, que já são recolhidos e utilizados pelo porto, e para os quais o porto procurava outras aplicações criativas.
O concurso demorou cerca de 3 meses, a 3D Modelling Studio entregou a candidatura no último dia porque acabámos por responder a 2 desafios quando a ideia inicial era responder apenas a um desafio! A verdade é que, sabendo do concurso e percebendo que 2 desafios se alinhavam com o que estávamos a desenvolver, não poderíamos não concorrer!
A solução vencedora foi desenvolvida especificamente para este desafio ou já tinham uma ideia base que adaptaram?
Tínhamos uma ideia básica, porque o cálculo de volumes já é de alguma maneira bastante utilizada na construção. O grande desafio não era o cálculo matemático, mas a implementação da solução para funcionar remotamente e automaticamente, de modo a trabalhar ininterruptamente nos servidores externos. E esse foi o desafio, uma solução que classifica dados e calcula volumes com precisão, funciona sem interrupções e que não tem intervenção de nenhum operário em nenhum momento. A solução para o porto de Barcelona foi feita especificamente para este caso de estudo.
Qual foi o feedback que receberam?
Ficaram surpreendidos. E quando digo ficaram, refiro-me aos diretores do porto, onde se incluí a própria CEO do porto, que não só integraram o júri como são quem agora nos vai acompanhar! E os motivos que os levaram a ficar tão surpreendidos foram a capacidade e a simplicidade da solução que apresentámos. Não posso deixar de referir que apesar do sucesso nem tudo foi fácil: o pitch não foi fácil, íamos apresentar 3 vídeos e a organização apenas carregou o primeiro vídeo, sendo que eram precisos os 3 para contar a nossa proposta, e porque não somos uma empresa nem de Barcelona nem de Espanha, o que lhe pode levanta alguns receios. No final, tudo correu bem, acreditamos nós porque conseguimos apresentar uma solução para um problema que eles ainda não tinham conseguido resolver.
E em que consiste a vossa solução?
A solução tem 2 passos: faz-se uma digitalização dos dados dos resíduos, recorrendo-se a uma tecnologia de laser scanner, que é uma tecnologia ativa que pode funcionar ininterruptamente e que não depende das condições climatéricas ou da iluminação do local. Esta primeira fase acaba quando os dados são transferidos para o nosso servidor. Na segunda fase, o processamento de dados, os dados tridimensionais são utilizados para se calcular de uma maneira precisa não só o volume dos resíduos, mas também o tipo de resíduos, o que também é possível com a nossa solução. Depois é conectar os dados tratados com outros dados relacionados com a rastreabilidade do resíduo, como o nome do barco e do operador e o peso dos resíduos. E, no final, o cliente, neste caso o porto de Barcelona, recebe um relatório em formato HTML (web) onde aparece toda esta informação compilada em formato User-Friendly.
Como é que o prémio vai impactar a empresa?
Este é um projeto com uma escala grande, um grande cliente, um enorme volume de informação a ser processada e vai com certeza fazer-nos evoluir e crescer. O nosso objetivo é desenhar e implementar um modelo de Software as a Service (Saas) que se encaixa muito bem nesta necessidade, e portanto ter um cliente destas dimensões, que nos garantisse que nós conseguimos dar solução de alguma maneira define, solidifica e fortalece o desenho do modelo de negócio que nós queremos implementar. Vamos querer continuar a desenvolver soluções a nível de serviço, mas este prémio faz-nos avançar mais rapidamente no sentido de “produtizar” o serviço, o que nos dará uma outra escalabilidade.
E quais são os próximos passos?
Em setembro começamos um processo mais interativo com o próprio porto para conhecer as especificidades e as necessidades do porto. A solução inicial incluía a utilização do software que desenvolvemos e a reutilização de uma tecnologia já existente para a documentação. Neste momento, queremos seguir um caminho ligeiramente diferente e queremos desenhar a nossa própria solução de captura de dados! É um desafio, porque existem muitas variáveis em jogo, mas é a única forma de conseguirmos diminuir ao máximo o custo garantindo simultaneamente que o sistema não falhe nunca, porque temos de garantir o cálculo de resíduos de 100 mil metros cúbicos ao ano. É esse o motivo pelo qual estamos agora a desenvolver o nosso próprio hardware.
Esta solução pode ser replicada noutros sítios?
Sim, pode. Por exemplo, na indústria, a limitação de espaço é uma realidade que obriga a um cada vez melhor conhecimento de volume e pesos. Temos algumas referências internacionais de quem já o está a fazer e achamos que vamos no final conseguir ter um produto muito sólido por metade do preço do que estão a fazer hoje as grandes empresas. E ter o porto de Barcelona a usar a nossa solução dá-nos uma credibilidade que não tínhamos antes.
Que outras soluções pretendem desenvolver com o porto de Barcelona?
Como atrás referido, apresentámos e fomos finalistas com duas soluções. Para o tratamento de dados geométricos tínhamos também uma solução muito interessante que passava por transformar estes dados num videojogo: trata-se de um videojogo muito interativo e conectado com a comunidade que é o Minecraft. Minecraft é não só o videojogo mais vendido de todos os tempos, mas também o mais visto no youtube! Mais do que vender a solução, queríamos contribuir para que o porto de Barcelona a implementasse na sua comunidade. Acreditamos que esta solução também merecia um prémio, estando também conscientes que era muito difícil atribuir 2 prémios à mesma empresa.
E que objetivos têm para o futuro?
Diria que internacionalizar a empresa. A empresa é muito recente, cerca de 3 meses de atividade, e não tínhamos ainda uma ideia de internacionalização. Mas este prémio marca um antes e um depois, sendo que já recebemos comunicações da Finlândia e de Espanha de interessados no que estamos a fazer. Em setembro vamos ter que reformular o nosso plano para 2020. Obviamente que estamos interessados no mercado português, somos uma empresa portuguesa, mas a nossa ideia será continuar a desenvolver produtos, tecnologicamente diferenciados e inovadores, que nos permitam alavancar um crescimento mais rápido.
Sobre a 3D Modelling Studio
O uso de dados 3D está em constante evolução e a 3DModelling Studio entende o valor de olhar para o futuro e acompanhá-lo. São uma Spin-Off tecnológica com o objetivo de fornecer uma combinação de produtos e serviços na digitalização tridimensional do ambiente físico (reconstrução 3D desde sensores remotos), modelação inteligente e a análise de dados espaciais.
Saiba mais em http://www.3dmodelling.eu/